"Voltando do trabalho, ainda era dia quando pus a cara na rua. O céu azul parecia mudar de tom sem que eu notasse, como as pinturas que você faz, que tomam forma sem que eu perceba em que momento tudo poderia ter começado, onde me perdi, qual pincelada eu não vi? A a noite por fim, cobriu o horizonte, o dia já não era mais dia e eu ainda estava no caminho de volta pra casa.
Te escrevo porque, de algum modo, a noite me lembra você. Sempre brincando com as nuances das cores nas suas telas em branco, assim como Deus faz com o céu - se é que ele existe. Você duvida muito, eu acredito -, como se o teto infinito do céu, sobre nossas cabeças pudesse ser um quadro gigante e que espera ansiosamente pela escuridão da noite agora e outrora espera pela luz do dia para fazer brilhar alguma coisa, o sol ou as estrelas, assim como devem brilhar os seus olhos enquanto pinta.
Então pintar é isso, é fazer brilhar alguma coisa, brincar com o degradé, misturar para criar cores novas e no fim deixar brilhar, sejam as estrelas, o sol da manhã ou a luz dos seus olhos.
No final, até o dia me faz lembrar você. É que depois, ele vira noite também."
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